Na fronteira da cerveja com o vinho
A vida nem sempre segue uma rota direta. É nas curvas que nascem as surpresas e quem topa se entregar às curvas tem a chance de virar o que nunca nem sonhou ser.
O Beto é apaixonado por vinho. Antes de ser mestre-cervejeiro da TRILHA, sonhava ter uma vinícola. Enquanto ia afinando os detalhes desse sonho, fez formação profissional de vinho, chegou a dar aulas, aí virou chef de cozinha, abriu restaurantes, negócios que deram muito certo. Mas faltava alguma coisa. "Qual é meu papel no mundo?", a pergunta ficava martelando.
A resposta veio na primeira brassagem. Ele viu que era aquilo que ele queria fazer. Foi um caminho sem volta. Ele mergulhou, foi estudar, conhecer melhor o processo.
Em um desses momentos mágicos da vida, pouco tempo depois o Dani ligou pro Beto – eles são amigos de infância – perguntando se ele conhecia alguém que tivesse formação em gastronomia, com visão ampla de sabores e ingredientes, para trabalhar com ele num projeto especial: uma cervejaria diferente, com cervejas feitas por alguém que fosse além da visão técnica de um mestre cervejeiro. Era perfeito.
“Depois de estudar tanto o mundo do vinho, o Daniel me apareceu com um projeto de produzir cervejas cheias de sabor e com várias possibilidades. Lembro de experimentar algumas cervejas barrel aged com ele e tomar um susto. Aquilo era tão complexo como vinho. Foi um chamado. Daí tudo foi um grande processo de mergulhar e ir cada vez mais fundo nessa descoberta”, relembra o Beto.
Assim nasceu a Trilha e o Beto, que sonhava em ter vinícola, virou mestre-cervejeiro.
O Diego Cartier, um dos sócios da Vivente Vinhos, é apaixonado por cervejas lambics. Antes de ser vinicultor, ele foi beer-hunter, importador – e uma das figuras mais influentes do Brasil, que trazia raridades, pérolas, que ampliaram a visão do que é cerveja por aqui. Mas Diego nunca quis ter uma cervejaria ou fazer cerveja.
Logo na primeira viagem que fez à Bélgica para visitar duas cervejarias lendárias, a Cantillon e 3 Fonteinen, conheceu os vinhos naturais. Foi um caminho sem volta. Ele nem tomava vinho antes disso, mas a partir daí as malas de viagens com beer hunter voltavam cheias de garrafas – de vinho.
Cinco anos depois do primeiro encontro com os vinhos naturais, tudo mudou. "Em 2015, conheci os espumantes ancestrais produzidos pelo Costadilà (Itália) e Les Capriades (França), que mudaram a minha vida. Decidi que queria fazer isso, apresentei para o Mica, que também entrou nesse caminho sem volta e tudo foi acontecendo naturalmente."
Mica é Micael Eckert, fundador de uma cervejaria revolucionária, a Coruja. Lá atrás, quando a cena cervejeira engatinhava, ele bancou produzir cervejas vivas, não-pasteurizadas, que revolucionaram o mercado.
Foto: Marcelo Curia
Assim nasceu a Vivente, e o Diego, que era beer-hunter, e o Mica, que era cervejeiro, viraram vinicultores. A Vivente, que fica em Colinas, no Rio Grande do Sul, rapidamente se tornou uma grande referência de vinhos naturais, que esgotam assim que são lançados.
Amanhã nasce a Cuvée Trilha & Vivente. A soma de todos esses sonhos e paixões. O encontro de quatro cabeças que não se conformam com fronteiras e limites. Não fazemos cervejas ou vinho. Buscamos experiências incríveis, sensações novas, goles que levem para lugares inexplorados.
O Mica resume essa ideia de um jeito muito especial:
"Queremos diversidade e provocação. A experiência de viver histórias ricas e muitas vezes únicas. Distintas. Provocação no sentido de entender diferenças e valorizá-las. Não reunir tudo em um lugar comum. Dá uma sensação de mundo vasto e inexplorado! Quantos lugares, insinuados numa taça ou gole, que gostaríamos de visitar para viver essas histórias de vida! É muita coisa para vivenciar."
Assinamos embaixo!
O Dani define esse encontro como um começo, o início de um projeto que, como nós gostamos, não sabemos ao certo onde vai dar.
"É muito bom trabalhar com pessoas que enxergam o mundo como nós enxergamos. Temos tanta coisa para descobrir. Estar bem acompanhado nessa busca, que não tem fim nem queremos que tenha, deixa tudo mais divertido. A Cuvée é só o começo de um projeto que tem a ambição de quebrar as barreiras entre esses dois mundos."
O Diego emenda aqui com um convite para refletir sobre esses rótulos:
"Produzimos vinhos da forma que acreditamos que devem ser feitos. É um resgate de como se fazia antes dos vinhos industrializados chegarem. As pessoas usam o termo vinho natural, assim como usam cerveja artesanal, para diferenciar dos produtos industrializados. Mas nós estamos falando de vinhos e cervejas vivas, produzidas artesanalmente e com todo cuidado que essas bebidas merecem."
Esse período que estamos vivendo convida a uma reflexão sobre estarmos juntos. Muita gente se sentiu solitária, muita gente descobriu laços importantes. Para nós, que sempre buscamos pensar a cerveja além do mundo tradicional, tem sido um período de encontrar parcerias no mundo do café, do cacau, do vinho. Encontramos pessoas que estão olhando para o mundo com a mesma lupa que nós usamos. Descobrir esses produtores e trabalhar perto deles é uma missão, um objetivo, uma diversão. Ninguém anda sozinho.
São três Cuvées Trilha Vivente.
Cuvée Trilha & Vivente Blend Manga 2021 | 1/2 Cerveja Gose com Manga & 1/2 Vinho Sauvignon Blanc
Cuvée Trilha & Vivente Blend Romã 2021 | 1/2 Cerveja Sour com Romã & 1/2 Vinho Sauvignon Blanc
Cuvée Trilha & Vivente Blend Saison 2021 | 1/2 Cerveja Saison Barrel Aged & 1/2 Vinho Sauvignon Blanc
Do ponto de vista técnico, elas são exatamente o que está escrito no rótulo. Cada garrafa – de espumante, com rolha aramada, para fazer póc! – tem metade de vinho e metade de cerveja. As bebidas foram blendadas em tanque, para irem se conhecendo, se familiarizando, e depois engarrafadas.
Agora, do ponto de vista da experiência, são convites para rever fronteiras. Para apagar as linhas e deixar os mundos se misturarem e entregarem o que têm de melhor.